Santo António
70 Anos - Doutor da Igreja
Este ano celebram-se os 70 anos da proclamação de Santo
António Doutor da Igreja. Este título honorífico foi atribuído pelo Papa
Pio XII e veio confirmar a tradição, mantida ao longo dos séculos pelos
franciscanos italianos e portugueses, que sempre prestaram a Santo
António, o culto dos doutores da Igreja.
Assinalando esta efeméride, a Câmara Municipal de Lisboa,
através do Museu de Lisboa - Santo António, e o Centro Cultural
Franciscano, em colaboração com a revista Itinerarium e o CEFI - Centro
de Filosofia da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica
Portuguesa, organizam o Simpósio Internacional Antoniano Exulta Lusitânia Felix. Pretende-se destacar
a importância de Lisboa e Coimbra na formação teológica e intelectual
de Santo António, revelada posteriormente na sua pregação em Itália e
França, e que chegou até aos nossos dias.
Com a participação de especialistas de Lisboa, Porto,
Pádua e Goiânia este simpósio dá a conhecer a vertente erudita de Santo
António, um outro olhar sobre o santo casamenteiro e dos objetos
perdidos, o santo popular festejado todos os anos nas festas da cidade
de Lisboa.
4 de junho, 10h - 19h | Centro Cultural Franciscano (Lisboa)
Entrada livre
Mais informações em:
http://www.museudelisboa.pt/
Carta Apostólica de Pio XII, 16 de Janeiro de 1946
proclama Santo António de Lisboa, Doutor da Igreja
Exulta Lusitania Felix.
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Pio XII Para perpétua memória
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Exulta, ó feliz Lusitânia;
regozija-te, feliz Pádua, porque a terra e o céu vos deram um homem que,
qual astro luminoso, não menos brilhante pela santidade da vida e pela
insigne fama dos milagres do que pelo esplendor da doutrina, iluminou e
continua a iluminar todo o universo!
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António nasceu em Lisboa, a primeira
cidade de Portugal, de pais cristãos, ilustres por virtude e sangue.
Pode deduzir-se de muitos e certos indícios que desde os primeiros
alvores da vida, foi abundantemente enriquecido pela mão do Omnipotente
com os tesouros da inocência e da sabedoria.
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Ainda muito jovem, tendo vestido o
hábito monástico entre os Cónegos Regulares de Santo Agostinho, durante
onze anos dedicou-se com o maior empenho a enriquecer a sua alma com as
virtudes religiosas e o seu espírito com a sã doutrina. Elevado depois à
dignidade sacerdotal por graça do céu, enquanto vai aspirando à vida
mais perfeita, os cinco Protomártires Franciscanos em missão de Marrocos
consagram com seu sangue os princípios da Religião Seráfica.
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E António, cheio de entusiasmo por
triunfo tão glorioso da fé cristã, sentindo-se inflamado de vivíssimo
desejo do martírio, (vestido o hábito franciscano), dirigiu-se contente
numa nau a Marrocos e chegou felizmente às praias africanas.
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Vítima, no entanto, pouco depois, de
grave enfermidade, viu-se obrigado a retomar a nau para voltar à pátria.
Desencadeando-se então formidável tempestade, e sendo levado para uma e
outra parte nas asas do vento e das ondas, finalmente, por disposição
divina, é arrojado ao mais remoto extremo da costa italiana. Dali,
desconhecendo o lugar e as pessoas, pensou em dirigir-se à cidade de
Assis, onde então se celebrava o Capítulo Geral da Ordem dos Menores.
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Chegado ali, teve a dita de ver e
conhecer o Seráfico Pai São Francisco, cujo dulcíssimo aspecto o encheu
de consolação e o incendiou de novo ardor seráfico. Tendo-se divulgado
mais tarde a fama da celestial doutrina de António, o mesmo Seráfico
Patriarca, ao tomar dela conhecimento, confiou-lhe o ofício de ensinar
Teologia aos seus frades, mandano-lhe este suavíssimo diploma: “A Frei
António, meu bispo, Frei Francisco deseja saúde.
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Apraz-me que ensines aos frades a
sagrada Teologia, contanto que neste estudo não extingas o espírito da
santa oração e devoção, como na Regra se prescreve”.
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António cumpriu fielmente o ofício do
magistério, e deve considerar-se o primeiro professor da Ordem
Franciscana. Ensinou primeiro em Bolonha, então primeira sede dos
estudos; depois em Tolosa e, finalmente, em Montpellier, onde igualmente
floresciam os estudos.
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António ensinou a seus irmãos,
recolhendo frutos abundantíssimos e, como lhe ordenara o Seráfico
Patriarca, não deixou esmorecer o espírito da oração, antes o Santo de
Pádua procurou instruir os seus discípulos não só com o magistério da
palavra, mas ainda muito mais com o exemplo duma vida santíssima,
conservando e defendendo especialmente o branco lírio da pureza
virginal.
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E Deus não deixou de lhe manifestar
várias vezes quanto foi estimado pelo Cordeiro Jesus Cristo este amor
que tinha à pureza. E fetivamente, enquanto Antônio estava rezando
solitário na sua cela eremítica, todo absorto com o espírito em Deus e
com os olhos voltados para o céu, eis que, de repente, num raio de luz
lhe aparece o Divino Menino Jesus, cingindo-se ao colo do jovem
franciscano, e com os seus bracinhos cumula de carícias o nosso Santo
que, anjo em carne humana, arrebatado em suavíssimo êxtase, vai pascendo
entre os lírios’ (Cant 2,16) junto com os anjos e com o Cordeiro
Divino.
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Os autores coevos dão testemunho da
muita luz que brilhou na doutrina de Antônio, aliada da pregação da
palavra divina, e com eles os autores mais recentes que unanimemente
celebram com altos louvores a sua sabedoria e exaltam até ao céu a sua
robusta eloquência.
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Quem atentamente percorrer os “Sermões”
do paduano, descobrirá em Antônio o exegeta peritíssimo na
interpretação das Sagradas Escrituras e o teólogo exímio na definição
das verdades dogmáticas, bem como o insigne doutor e mestre em tratar as
questões de ascética e de mística – tudo o que, como tesouro da arte
divina da palavra, pode prestar não pouco auxílio, especialmente aos
pregadores do Evangelho, pois constitui rica mina de onde os oradores
sacros podem extrair as provas, os argumentos oportunos para defender a
verdade, impugnar os erros, combater as heresias e reconduzir ao recto
caminho.
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Ademais, como António costumava
confirmar as suas palavras com passos e sentenças do Evangelho, com
pleno direito merece o título de “Doutor Evangélico”. De fato, de seus
escritos, como de fonte perene de água límpida, não poucos Doutores e
Teólogos e oradores sacros têm extraído, e podem continuar a extrair, a
sã doutrina, precisamente porque vêem em António o mestre e o doutor da
Santa Mãe Igreja.
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Sisto IV, na sua Carta Apostólica
Immensa, de 12 de março de 1472, escreve o seguinte: “O bem-aventurado
Antônio de Pádua, como astro luminoso que surge do alto, com as
excelentes prerrogativas dos seus méritos, com a profunda sabedoria e
doutrina das coisas santas e com a sua fervorosíssima pregação,
ilustrou, adornou e consolidou a nossa fé ortodoxa e a Igreja católica”.
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Igualmente Sixto V, na sua Bula
Apostólica de 14 de janeiro de 1486, deixou escrito: “O bem-aventurado
Antônio de Lisboa foi homem de exímia santidade…, e cheio também de
sabedoria divina”.
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Além disso, o nosso imediato
predecessor Pio XI, de feliz memória, na sua Carta Apostólica Antoníana
Sollemnia, publicada em l de março de 1931 por ocasião do sétimo
centenário da morte do santo e dirigida ao Exmo. Sr. D. Elias da Costa,
então Bispo de Pádua e agora Cardeal da Santa Igreja Romana e Arcebispo
de Florença, celebrou a divina sabedoria com que este apóstolo
franciscano se dedicou a restaurar a santidade e a integridade do
Evangelho.
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Apraz-nos também recordar da mencionada
carta do nosso predecessor as seguintes palavras: “O taumaturgo de
Pádua levou à sociedade do seu proceloso tempo, contaminada por maus
costumes, os esplendores da sua sabedoria cristã e o suave perfume das
suas virtudes… O vigor do seu apostolado manifestou-se de modo especial
na Itália. Foi este o campo das suas extraordinárias fadigas. Com isto,
porém, não se quer excluir outras muitas regiões da França,
porque António, sem distinção de raças ou de nações, a todos abençoava
no âmbito da sua actividade apostólica: portugueses, africanos,
italianos e franceses, a todos, enfim, a quem reconhecesse necessitados
do ensinamento católico. Combateu depois com tal ardor e com tão feliz
êxito contra os hereges, isto é, contra os Albigenses, Cátaros e
Patarenos, na época enfurecidos quase por toda a parte a tentarem
extinguir no ânimo dos fiéis a luz da verdadeira fé, que foi chamado com
razão “martelo dos hereges”.
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Nem se pode calar aqui, pelo peso e
importância que representa, o sumo elogio que Gregório IX tributou ao
Paduano, depois de ouvir a pregação de Antônio e comprovar o seu
admirável viver, chamando-o “Arca do Testamento” e “Arsenal das Sagradas
Escrituras”.
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É igualmente mui digno de memória que, a
30 de maio de 1232, onze meses apenas depois da sua morte, o taumaturgo
de Pádua seja inscrito no Catálogo dos Santos, e que, terminado o
solene rito da canonização, o mesmo Gregório IX, segundo contam, tivesse
entoado em voz alta, em honra do novo Santo, a antífona própria dos
Doutores da Igreja: Ó grande Doutor, luz da Santa Igreja,
Bem-aventurado António, amante da lei divina, rogai por nós ao Filho de
Deus!
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Foi este precisamente o motivo por que
desde o primeiro momento se começou a tributar na sagrada liturgia a
Santo António o culto próprio dos Doutores da Igreja, e no missal,
“segundo o costume da Cúria Romana”, se pôs em sua honra a missa dos
Doutores. Esta missa, mesmo depois da correcção do calendário,
introduzida pelo Pontífice São Pio V em 1570, nunca deixou de se usar
até nossos dias em todas as famílias franciscanas e nos cleros das
dioceses de Pádua, de Portugal e do Brasil.
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Pela mesma razão de tudo quanto até
agora temos dito, logo depois da canonização de António, se impôs o
costume de apresentar à veneração do povo cristão, na pintura e na
escultura, a imagem do grande apóstolo franciscano, levando em uma das
mãos ou perto um livro aberto, índice da sua sabedoria e da sua
doutrina, e tendo na outra uma chama, símbolo do ardor da sua fé.
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Por isso, a ninguém deve admirar que
não somente toda a Ordem franciscana, em especial por ocasião dos seus
Capítulos Gerais, mas também muitos ilustres personagens de todas as
classes e condições tenham exprimido muitas vezes o vivo desejo de ver
confirmado e estendido a toda a Igreja o culto de Doutor, desde há
séculos tributado ao Taumaturgo de Pádua.
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Estes desejos intensificados
principalmente por ocasião do sétimo centenário da morte de
Santo António, em vista também das honras extraordinárias a ele
tributadas, a Ordem dos Frades Menores, primeiro ao nosso imediato
predecessor Pio XI e recentemente também a Nós, apresentou súplicas
ardentes para que nos dignássemos contar a António entre os Santos
Doutores da Igreja.
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E como para exprimir o mesmo desejo
concorre também o sufrágio tanto de muitos Cardeais da Santa Igreja
Romana, de Arcebispos e Bispos, de Prelados, Ordens e Congregações
religiosas, como de outras doutíssimas personagens eclesiásticas e
seculares e, finalmente, de mestres de Universidades, instituições e
associações, julgamos oportuno confiar ao exame da Sagrada Congregação
dos Ritos assunto de tanta importância.
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Esta Sagrada Congregação, mostrando-se,
como costuma, disposta a seguir as Nossas ordens, elegeu uma Comissão
especial e oficial, para que fizesse exame cuidadoso da proposta.
Pedido, pois, e obtido em separado e depois dado à estampa o voto de
cada um dos comissionados, não faltava mais que interrogar os membros da
Sagrada Congregação sobre se, dadas as três condições que o Nosso
predecessor Bento XIV requer no Doutor da Igreja universal, isto é,
santidade insigne, eminente doutrina celeste e declaração pontifícia,
julgava que se podia declarar Santo António Doutor da Igreja universal.
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Na sessão ordinária celebrada no
Vaticano a 12 de junho de 1945, os Eminentíssimos Cardeais encarregados
dos assuntos da Sagrada Congregação dos Ritos, depois que o Nosso amado
filho Rafael Carlos Rossi, Cardeal-Presbítero, Secretário da Sagrada
Congregação Consistorial e relator desta causa, fez sobre ela o devido
relatório, e depois de ter ouvido o parecer do Nosso amado filho
Salvador Natucci, Promotor Geral da Fé, deram o seu próprio
assentimento.
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Estando assim as coisas, Nós, por Nossa
espontânea e boa vontade, secundando o desejo de todos os Franciscanos e
de todos os demais citados, pelo teor da presente carta, de ciência
certa e com madura deliberação e com a plenitude do poder apostólico,
constituímos e declaramos a Santo António de Pádua, Confessor, Doutor
universal da Igreja, sem que possam obstar as Constituições e Ordenações
Apostólicas e qualquer outra coisa em contrário. E isto o
estabelecemos, decretando que a presente carta deva ser e permanecer
sempre firme, válida e eficaz, e surta e obtenha o seu pleno e inteiro
efeito, que assim, e não de outra maneira se deva julgar e definir; como
também, a partir deste momento, declaramos inválido e nulo tudo quanto
porventura intente contra as preditas disposições qualquer pessoa ou
autoridade por conhecimento ou por ignorância.
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Dada em Roma, junto de São Pedro, sob o
anel do Pescador, no dia 16 de janeiro, festa dos Protomártires
Franciscanos, no ano de 1946, sétimo do nosso Pontificado.”
Tradução para português consultável em:
https://instavrareomniainchristo.wordpress.com/2013/01/16/carta-apostolica-exulta-lusitania-felix-de-pio-xii-proclama-santo-antonio-doutor-da-igreja/
|
Pius PP. XII (2.III.1939 - 9.X.1958) |
PIUS PP. XII
LITTERAE APOSTOLICAE
EXULTA, LUSITANIA FELIX*
SANCTUS ANTONIUS PATAVINUS, CONFESSOR,
ECCLESIAE UNIVERSALIS DOCTOR DECLARATUR
Ad perpetuam rei memoriam. — Exulta, Lusitania felix; o felix Padua,
gaude: tantum enim genuistis terrae caeloque, haud imparem micanti
sideri, virum, qui non solum sanctitudine vitae miraculorumque inclyta
fama, sed etiam doctrinae caelestis effuso splendore coruscans, orbem
universum illuminavit, et adhuc fulgentissima luce collustrat. A
christianis parentibus, nobilique genere claris, Ulissipone, civitate
Lusitaniae principe, ortum, innocentiae atque sapientiae seminibus a Deo
omnipotenti fuisse donatum abunde, a primo propemodum eius diluculo
vitae ex pluribus indubiisque signis facile conici potuit.
Adulescentulus adhuc, apud Canonicos Regulares Sancti Augustini indutus
humili sago, undecim per annos religiosis virtutibus, animum instruere,
mentemque caelestis doctrinae thesauris ditare sategit. Sacerdotio
deinceps, aeterni Numinis gratia, feliciter auctus, dum perfectioris
vitae rationem aucupatur, Protomartyres Fratres Minores quinque sodales,
in sacris Marrochii expeditionibus, roseas Seraphici Ordinis auroras
tinxerunt sanguine suo. Quo gavisus fidei christianae glorioso triumpho,
ardentissimo Antonius martyrii exarsit amore, et, navi profectus
gaudens Marrochium versus, longinquas Africae felix attigit oras. Sed
paulo post gravi morbo correptus, iterum navim ascendit in patriam
reversurus, sed tempestate saevissima maris oborta, ventorum vi hinc
inde iactatus in undis, compulsus ad Italiae, sic disponente Deo,
extrema littora fuit. Illic autem ignotus cum omnibus esset, nec
quemquam agnosceret ipse, assisiatem urbem petere cogitavit, in quam
complures nuper convenerant sui Ordinis sodales atque magistri. Quo cum
prevenisset, Franciscum Patrem summa laetitia agnovit, cuius dulcis
aspectus tali tantaque eum suavitate perfudit ut animum eius seraphici
spiritus ardentissimo inflammaverit aestu. Cum vero doctrinae caelestis Antonii,
iam longe lateque fama percrebuerit, Seraphicus Patriarcha, de ea
certior factus, Antonio docendi Fratres munus committere voluit, verbis
usus, in scribendo, suavissimis illis: «Antonio Episcopo meo, Frater
Franciscus salutem. Placet mihi quod sacram Theologiam legas Fratribus,
dummodo inter liuiusmndi studium sanctae orationis et devotionis
spiritum non extinguas, sicut Regula continetur ». Hoc magisterii
offcium adamussim explevit Antonius, qui Lectorum omnium exstitit
seraphico in Ordine primus. Bononiae in urbe docuit, studiorum principe
sede; dein Tolosae, postremo Monte Pessulano; harum utraque studiorum
clarissima in urbe. Edocuit Fratres Antonius, fructusque collegit
uberrimos, neque oratio deferbuit, prout Seraphicus Patriarcha
praeceperat ei. Quin etiam non verbi magisterio solum, sed exemplo
quoque sanctissimae vitae, suos Patavinus instituendos curavit alumnos,
puritatis praesertim candidissimum tuitus florem. Quantum vero carum id
Immaculato fuerit Agno, haud omisit pluries nostro patefacere Deus.
Frequenter enim dum solus in sua tacita cella, stat, orans, Antonius,
dulciter in caelo oculis animoque defixus, en subito Iesus Infans,
fulgentissimo radians lumine, collum Franciscalis iuvenis tenellis
amplectitur ulnis, ac, leniter arridens, puerilibus blanditiis cumulat
Sanctum, qui, abstractus a sensibus, et Angelus ex homine factus, cum
Angelis et cum Agno, nunc « pascitur inter lilia » (Cant., II,
16). Quantam autem lucem Antonii doctrina diffuderit, haud aliter quam
verbi divini praeconium, aequales recentioresque uno testantes assensu,
sapientiam eius amplissimis ornant laudibus et sacram dicendi vim ad
sidera extollunt. Si quis vero Patavini « Sermones » attente
perpenderit, Sacrorum voluminum peritissimus Antonius apparebit; in
perscrutandis dogmatibus theologus eximius; in asceticis quoque
tractandis ac mysticis rebus insignis doctor atque magister. Quae omnia,
quasi thesaurus quidam artis divinae dicendi, haud exiguam opem,
praesertim Evangelii praeconibus, suppeditare valent; ditissimumque
quoddam veluti aerarium constituunt, e quo potissimum sacri oratores, ad
veritatem tutandam, ad propulsandos errores, ad haereses refellendas,
ad perditorum hominum animos in semitam rectam revocandps, haurire
abunde argumenta validissima queunt. Quoniam vero Antonius
frequentissime usus est testibus sententiisque ex Evangelio depromptis,
iure meritoque « Doctoris Evangelici » nomine dignus apparet. Ex hoc
nimirum, quasi profluentis aquae fonte perenni, haud pauci Doctores
Theologi et verbi divini praecones iugiter hauserunt hodieque largiter
hauriunt, quippe cum Antonium magistrum existiment, eumque habeant
Sanctae Ecclesiae Doctorem. Quo quidem in proferendo iudicio, ipsi
Romani Pontifices auctores auspicesque fuere, ac suo ipsorum exemplo
antecesserunt. Etenim Xistus IV, in Litteris Apostolicis Immensa, die XII mensis Martii, anno MCCCCLXXII datis, haec scriptis tradidit suis :« Beatus Antonius de Padua, veluti oriens ex alto, splendidissimum sidus
effulsit, qui, suis amplissimis meritorum virtutumque praerogativis,
profunda divinarum rerum sapientia e:t doctrina ac ferventissimis
praedicationibus orthodoxam fidem nostram catholicamque Ecclesiam
illustravit, ornavit, stabilivit ». Itidem Xistus V in Litteris
Apostolicis sub plumbo datis die XIV mensis Ianuarii anno MDLXXXVI, ita
scripsit : « Beatus Antonius Ulyssiponensis, eximiae sanctitatis vir
fuit . . ., divina praeterea imbutus sapientia ». Proximus autem
Decessor Noster, Pius Papa XI, rec. mem., in Epistola Apostolica Antoniana sollemnia
septimo exeunte saeculo a felici B. Antonii transitu die I mensis
Martii, anno MDCCCCXXXI data, ad Excmuma. MDCCCCXLVI, Patavinum
Episcopum, nunc S. R. E. Cardinalem Florentinorum Archiepiscopum,
divinam extollit sapientiam illam, qua, praeditus abunde, magnus hic
Franciscalis Apostolus, integritatem Evangelii sanctitatemque instaurare
contendit. Sed ex Epistola eadem Decessoris Nostri aptissima haec
renovare verba iuvabit : Thaumaturgus Patavinus procellosam aetatem
suam, profligatis passim moribus infectam, christiana collustravit
sapientia ac veluti suae virtutis suavitate perfudit . . . (In Italia)
potissimum apostolica eius vis ac navitas inclaruit; hic impensissimi ab
eo exantlati labores; at in Galliae etiam provinciis bene multis,
quandoquidem omnes Antonius, Lusitanos nempe suos, Afros, Italos,
Gallos, quotquot denique catholica veritate indigere intellexisset,
nullo habito gentis nationisque discrimine actuoso studio suo
complectebatur. In haereticos autem, Albigenses scilicet, Catharos et
Patarenos, eo tempore paene ubique furentes ac germanae fidei lumen in
christifidelium animis restinguere conantes, tam strenue feliciterque
decertavit, ut «haereticorum malleus » iure merito nuncuparetur ». Nec
praetereunda, quin etiam maximi habenda est ponderis atque momenti, laus
summa quam Gregorius PP. IX, qui concionantem audierat Antonium eiusque
admirabilem conversationem expertus fuerat, Patavino tribuere voluit,
«Arcam Testamenti » et « Sacrarum Scripturarum scrinium » illum
appellans. Memoratu pariter dignissimum esse videtur, quod, die ipsa XXX
mensis Maii anno MCCXXXII, qua Thaumaturgus Patavinus cooptatus in
Sanctorum Caelitum numerum fuit, mensibus vix undecim e beato transitu
emensis, Antonii Canonizatione sollēmni Pontificali ritu peracta,
Gregorium Antiphonam Sanctorum Doctorum Ecclesiae propriam elata voce
canendo recitasse tradunt: «O doctor optime, Ecclesiae Sanctae lumen,
beate Antoni divinae legis amator, deprecare pro nobis Filium Dei ». Ex
quo factum est ut vel ab initio in sacra Liturgia cultus Sanctorum
Doctorum Ecclesiae proprius Beato Antonio tribui coeptus sit, inserta in
eius honorem Missa de Doctoribus in Missali « secundum consuetudinem
Romanae Curiae ». Quae porro Missa, etiam post emendationem anno MDLXX a
Sancto Pio V in Kalendario peractam, ad nostra usque tempora apud
Franciscales Familias universas, atque Patavinae dioeceseos nec non
Lusitanae ac Brasiliensis ditionum apud clerum utrumque, adhiberi haud
destitit unquam. Factum praeterea est, ex iis quae reseravimus ante, ut,
vixdum Sanctorum Caelitum honoribus Antonio decretis, ita pingi
sculpive eius imagines coeperint, ut eaedem Franciscalem magnum
Apostolum Christifidelium pietati excolendum proponerent, altera manu,
vel prope, librum habentem apertum, sapientiae doctrinaeque indicem,
flammam altera, fidei ardoris symbolum, manu tenentem. Nihil mirum igitur si complures, nedum ex Seraphico Ordine qui
in suis conventibus generalibus pluries vota deprompsit ut Doctoris
cultus, Patavino Thaumaturgo per saecula tributus, confirmaretur et ad
universam Ecclesiam extenderetur, sed ex omnibus coetibus viri
clarissimi ardentissima haec desideria sua detegere non dubitaverint.
Quae vota cum, septingentesimo vertente anno a beato Antonii transitu
eidemque caelestibus decretis honoribus quam maxime adaucta sint,
Franciscalium Minorum Ordo proximo Decessori Nostro rec. mem. Pio PP.
XI, nuperrime vero etiam Nobismet Ipsis enixas postulationes adhibuit ut
in numerum Sanctorum Ecclesiae Doctorum Antonium rite referre velimus.
Cum praeterea huiusmodi vota tum S. R. E. Purpurati Patres, tum
Archiepiscopi atque Episcopi quam plurimi, nec non Re1igiosorum Ordinum
seu Congregationum Praelati aliique doctissimi viri, sive e clero sive e
popularibus, sive, denique, e Studiorum Universitatibus atque
Institutis Coetibusque, suis ipsorum suffragiis auxerint et
cumulaverint, Nos Romanae Sacrae Ritibus tuendis Congregationi tanti
momenti rem opportunum « pro voto » committere duximus. Quae quidem
Sacra Congregatio mandato Nostro naviter de more obtemperans, viros ad
rem accurate examinandam idoneos « ex officio » delegit. Eorundem itaque
exquisitis obtentisque suffragiis separatis, atque etiam praelo
impressis, illud tantum supererat, ut qui eidem Congregationi sunt
praepositi rogarentur an, consideratis tribus quae post rec. mem.
Decessorem Nostrum Benedictum PP. XIV in Ecclesiae universalis Doctore
enumerari solent requisitis: insigni, nempe, vitae sanctitate, eminenti
caelesti doctrina, nec non Summi Pontificis declaratione, procedi posse
censerent ad S. Antonium Patavinum Ecclesiae universalis Doctorem
declarandum. In ordinario autem conventu die xri mensis Iunii, anno
MDCCCCXLV in Aedibus Vaticanis habito, Emi S. R. E. Cardinales Sacrorum
Rituum Congregationi praepositi, a Dilecto Filio Nostro Rephaële
Carolo S. R. E. Presbytero Cardinali Rossi, Sacrae Congregationis
Consistorialis a Secretis et huius causae Ponente, debita rerum
relatione facta, audito quoque dilecto filio Salvatore Natucci, Fidei
Promotore Generali, consenserunt.
Quae cum ita sint, Nos, Franciscalium
omnium ceterorumque suffragatorum votis ultro libenterque concedentes,
praesentium Litterarum tenore, certa scientia, ac matura deliberatione
Nostris, deque Apostolicae potestatis plenitudine, Sanctum Antonium
Patavinum, Confessorem, Ecclesiae Universalis Doctorem constituimus,
declaramus. Non obstantibus Constitutionibus atque Ordinationibus
Apostolicis ceterisque in contrarium facientibus quibuslibet. Haec
edicimus, decernentes praesentes Litteras firmas, validas atque
efficaces semper exstare ac permanere; suosque plenos atque integros
efflectus sortiri atque obtinere; sicque rite iudicandum esse ac
definiendum; irritumque ex nunc et inane fieri si quidquam secus super h
a quovis, auctoritate qualibet, scienter sive ignoranter attent
contigerit.
Datum Romae, apud Sanctum Petrum, sub anulo Piscatoris, die XVI
mensis Ianuarii, in festo Protomartyrum Franciscalium a. MDCCCCXLVI,
Pontificatus Nostri septimo.
PIUS PP. XII
*Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, VIII,
Ottavo anno di Pontificato, 2 marzo 1946 - 1° marzo 1947, pp. 415-420
Tipografia Poliglotta Vaticana
Original em latim consultável em:
http://w2.vatican.va/content/pius-xii/la/apost_letters/documents/hf_p-xii_apl_19460116_antonio-di-padova.html
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